terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Síntese de uma escolha

Não digas ao que vens.
Deixa-me adivinhar pelo pó nos teus cabelos que vento te mandou.
É longe a tua casa?
Dou-te a minha: leio nos teus olhos o cansaço do dia que te venceu;
e, no teu rosto, as sombras contam-me o rosto da viagem.
Anda, vem repousar os martírios da estrada
nas curvas do meu corpo — é um
destino sem dor e sem memória.
Tens sede? Sobra da tarde apenas uma
fatia de laranja — morde-a na minha boca sem pedires.
Não, não me digas quem és nem ao que vens.
Decido eu.

                                    Maria do Rosário Pedreira                                 

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